Tertúlia juntou escritores com uma casa comum: Alvalade
A Biblioteca Manoel Chaves Caminha recebeu, no dia 27 de janeiro, quatro escritores e “um descritor” (como o próprio se definiu), para uma tertúlia que se revelou muito dinâmica e participada. “Alvalade freguesia de escritores” foi o mote para este encontro, o qual contou com a participação de Leonoreta Leitão, Luís Vendeirinho, Vítor Pereira Neves, Otilina Silva e Gaspar Santos.
Com diferentes histórias de vida, formações e registos literários, os cinco convidados partilham uma ligação à freguesia de Alvalade, na qual se orgulham de residir. O último piso da biblioteca, situada na Avenida Rio de Janeiro, encheu-se para os ouvir falar das suas vivências e da sua obra.
A primeira a intervir foi Otília Silva, professora reformada que iniciou a sua atividade na Escola Padre António Vieira. A autora de obras como “Razões para Viver”, “A Balada do Chicharro” e, mais recentemente, “Recordações e Acasos de uma Vida”, descreveu aos presentes o seu percurso profissional e a sua obra, a propósito da qual concluiu que “um autor, mesmo na ficção, não consegue distanciar-se completamente” daquelas que são as suas circunstâncias.
Seguiu-se Vítor Pereira Neves, que se orgulha de ser autor de uma vasta obra sobre as aldeias históricas de Portugal. O escritor, que vive na freguesia há 40 anos, decidiu presentear a assistência com um conto histórico em redor do significado de “Alvalade”, palavra que concluiu remeter para a ideia de criação de valados, para travar as forças opositoras nas batalhas.
Já Gaspar Santos começou por dizer que não se considera escritor, mas sim “um descritor”, na medida em que a sua obra assenta na observação e descrição da realidade que o “impressionou ou impressiona” e nas suas memórias de juventude. Este autor reside na freguesia desde 1954 e não tem dúvidas de que “é bom viver em Alvalade”. “É como se vivêssemos numa aldeia – há sempre com quem conversar ou pelo menos cumprimentar”, concluiu num texto distribuído na tertúlia.
“Nasci em Alvalade. Estudei em duas escolas de Alvalade. Casei em Alvalade. Vivo em Alvalade”, apresentou-se por sua vez Luís Vendeirinho, para quem a leitura foi “a primeira janela para o mundo”. Aos presentes, o autor de “Duo Mundi” e de “Cátedra de Mármore”, recordou o dia emocionante em que o primeiro habitante do prédio em que vivia teve uma televisão, em redor da qual se juntaram todos os vizinhos.
Nesta tertúlia participou também Leonoreta Leitão, autora de “Era uma vez um rei que teve um sonho” e do livro de memórias “Era uma Vez uma Boina – Memórias de uma professora”. Num texto escrito para a ocasião, a escritora recordou a Alvalade de 1954, quando a rua para a qual foi viver “ainda não era baptizada, era a Rua 24” e quando “cada prédio era habitado por trabalhadores de determinada profissão”.
No final das apresentações dos convidados foram muitos os membros da assistência que quiseram intervir. Da plateia ouviram-se poemas e outros textos e também um repto para os escritores presentes para que escrevam textos cuja ação se desenrole no local que os une: Alvalade.