Preservação do património norteia proposta da autarquia para o Bairro das Estacas
A Junta de Freguesia de Alvalade promoveu ontem uma reunião pública para apresentar as suas “primeiras ideias” para a requalificação do espaço público do Bairro das Estacas. Na ocasião, o presidente da autarquia sublinhou a “relevância arquitetónica e patrimonial do conjunto” e garantiu que o projeto que vier a ser concretizado se pautará pela preservação do conceito original do bairro.
Esta reunião realizou-se no Auditório Aquilino Ribeiro Machado, na Rua Teixeira de Pascoais, e contou com a participação de cerca de 40 pessoas, quase todas moradoras na zona. A sessão foi extremamente participada e prolongou-se por quase três horas, tendo ficado em aberto a possibilidade de uma nova reunião numa fase subsequente do processo.
Aos presentes, o presidente da Junta de Freguesia de Alvalade explicou que a intenção da autarquia é que haja “um grande envolvimento da comunidade nas opções que vierem a ser tomadas” na requalificação do Bairro das Estacas. Este, acrescentou André Caldas, é um processo que está ainda numa “fase preparatória” e que se prevê que tenha “um calendário longo”, até pela necessidade de submeter o projeto à Direção-Geral do Património Cultural.
Certo é que o projeto a concretizar promoverá “o respeito pela origem do bairro”, desenvolvido entre 1949 e 1954 por Ruy d’Athouguia e Sebastião Formosinho Sanchez e com paisagismo de Gonçalo Ribeiro Telles (cujo desenho original não corresponde exatamente ao que acabou por ser concretizado). Em paralelo, notou André Caldas, a autarquia pretende “remover algumas intervenções que foram eliminando a feliz traça do conjunto” e promover, “de forma muito cirúrgica e contida”, algumas atualizações de materiais.
Durante esta reunião pública foi apresentada “uma ideia base” desenvolvida pela Junta de Freguesia, com “duas conformações ligeiramente diferentes”. Entre os objetivos a atingir encontram-se a requalificação dos espaços verdes (com novas plantações), a disponibilização de zonas de estadia, de lazer e de recreio e a melhoria dos pavimentos, promovendo-se assim a mobilidade pedonal.
Nesse sentido, prevê-se a alteração do atual parque infantil (tornando-o mais aberto e orgânico) e a criação de uma zona de estadia em madeira junto a ele. Os candeeiros existentes no Bairro das Estacas serão preservados, sendo igualmente salvaguardados elementos como os bancos de madeira, os jogos da macaca e os pavimentos em pedra.
Ainda em relação aos pavimentos, a proposta da autarquia passa por substituir o betuminoso dos caminhos secundários por calçada e por colocar betão no percurso principal que atravessa os logradouros. Uma opção que André Caldas justificou com a necessidade de se garantir a existência de um caminho acessível a todos os cidadãos, incluindo àqueles que têm mobilidade condicionada.
A proposta dada a conhecer aos moradores inclui ainda a criação de um anfiteatro ao ar livre num dos logradouros (opção que não contou com a concordância de alguns dos participantes na reunião pública) e a formalização de 22 lugares de estacionamento no local que vai ficar liberto com a inauguração do novo Mercado Jardim.
Entre as duas hipóteses de trabalho ontem apresentadas há uma variação: enquanto uma delas prevê a criação de uma bolsa com 11 lugares de estacionamento (num logradouro que hoje está em grande parte impermeabilizado) a outra prevê que esse mesmo local seja uma zona de estadia.
Conheça aqui as duas soluções apresentadas:
Em relação ao arvoredo, os representantes da autarquia deixaram claro que no Bairro das Estacas, tal como acontece na globalidade do território de Alvalade, só serão abatidas árvores nos casos em que a avaliação realizada pelo Instituto Superior de Agronomia concluir pela necessidade desse procedimento, por motivos fitossanitários.
Quanto aos vazamentos dos prédios (existentes pelo facto de os prédios terem sido construídos sobre pilares, o que justifica a designação deste conjunto habitacional), André Caldas afirmou que a autarquia está disponível para intervir, promovendo a harmonização desses espaços. Mas isso, frisou, está dependente da concordância de cada um dos condomínios, por estar em causa propriedade privada.
“Acima de tudo queremos melhorar a qualidade do espaço público”, sintetizou o presidente da Junta de Freguesia de Alvalade, acrescentando que as alterações a introduzir visam permitir “aproveitamentos plurais e diversos pela comunidade”.
Da plateia foram muitas as vozes a congratular-se com a vontade da autarquia de promover uma requalificação global do espaço público do Bairro das Estacas e com a preocupação manifestada com a preservação do património e da memória do local. Os moradores aproveitaram ainda para exprimir algumas das questões que os preocupam, nomeadamente quanto à falta de estacionamento na zona.
“Os problemas estão identificados”, respondeu André Caldas relativamente a essa matéria, notando que no último mandato foram criados cerca de 100 novos lugares de estacionamento neste bairro e na área envolvente, número que representa o somatório de várias “pequenas intervenções” concretizadas.