O país despediu-se de um dos homens a quem deve a liberdade
O Centro Cívico Edmundo Pedro, em Alvalade, acolheu ontem e hoje o velório de Edmundo Pedro, “um dos mais destacados residentes na freguesia de Alvalade, fruto do seu combate pela liberdade, pela democracia, ao longo de quase 100 anos de vida”.
Por este equipamento, inaugurado no último 25 de Abril em homenagem a Edmundo Pedro, passaram muitas pessoas, que assim quiseram prestar-lhe uma última homenagem, naquela que foi uma muito sentida e participada despedida. Por todas, o resistente antifascista foi recordado como um homem ímpar, que muito fez pela liberdade em Portugal.
Um dos presentes foi o Presidente da República, que recordou “a luta contra a ditadura, a luta pela liberdade, sempre, antes e depois do 25 de abril”. “Era um lutador, um homem muito corajoso, fisicamente e psiquicamente, muito resistente e determinado na luta pelos seus ideias”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, para quem Edmundo Pedro “era um ativista nato, que tinha uma capacidade de resistência ilimitada”.
Já o Primeiro-Ministro lembrou a “lucidez”, a “combatividade” e a “determinação” de Edmundo Pedro, “um dos mais jovens presos da ditadura e seguramente o mais jovem do campo de concentração do Tarrafal”. Recordando que a sua luta pela liberdade se travou também depois do 25 de Abril, António Costa sublinhou que “é por ter estado sempre presente que a sua ausência vai ser muito sentida”.
Após uma pequena homenagem que se realizou esta tarde no Centro Cívico Edmundo Pedro, na qual intervieram António Costa e Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril, as cerimónias fúnebres prosseguiram no Cemitério do Alto de São João. O caixão, que se encontrava coberto com uma bandeira de Portugal, saiu das instalações da autarquia sob uma intensa e prolongada salva de palmas.
Recorde aqui outros testemunhos deixados ao longo destes dois dias:
“Era um dos mais destacados residentes na freguesia de Alvalade, fruto do seu combate pela liberdade, pela democracia, ao longo de quase 100 anos de vida. Era memória viva dos maiores horrores do obscurantismo fascista e era um grande patriota.
Sentimos uma honra enorme em poder homenageá-lo na hora da partida, como tivemos a felicidade de poder fazer em vida” – André Caldas, Presidente da Junta de Freguesia de Alvalade
– “Recordo-o com uma grande juventude, uma grande abertura de espírito. Um homem de grande liberdade, que não guardou mágoas de nada em relação à vida. Recordo um homem absolutamente excecional na sua liberdade, na sua maneira de ser, na sua juventude, na sua maneira de falar com os outros, na sua dimensão humana. É uma grande recordação e é uma grande saudade.
É um homem que olhava para nós, que falava connosco, sempre a partir da liberdade. Liberdade de espírito, liberdade de pensamento. Edmundo Pedro guardava nessa liberdade o melhor que nós temos na humanidade” – António Sampaio da Nóvoa, Reitor Honorário da Universidade de Lisboa
– “Recordo-o em primeiro lugar como um grande amigo. Perdemos uma grande referência do Portugal democrático. O Edmundo Pedro fica na nossa história e Portugal fica mais pobre com o desaparecimento dele. Foi um lutador extraordinariamente importante para que nós hoje possamos viver em democracia.
Ele teve uma vida extraordinária. Esteve muitas vezes preso mas nunca desistiu. Saía da prisão e recomeçava imediatamente a luta, sem pôr a questão de voltar a ser preso. Se a dor não fosse tão grande eu diria como os indianos, que dizem que quando um homem com uma vida muito intensa e longa morre se deve fazer uma festa. Mas a dor, de facto, é grande” – Vasco Lourenço, Presidente da Associação 25 de Abril
“Foi das pessoas mais corajosas que eu conheci. É um homem que esteve em todos os combates. Continuou sempre ativo. Era um homem de extrema coragem física e intelectual. O Edmundo Pedro era uma grande figura” – João Soares, Deputado da Assembleia da República e ex-Ministro da Cultura